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Curso de Entomologia fortalece vigilância da malária na Amazônia com apoio da Fapero e CNPq

03/09/2025

Porto Velho sediou, entre os dias 18 e 22 de agosto, o Curso de Capacitação em Entomologia do Projeto Pró Amazônia Malária, uma iniciativa coordenada pela Fiocruz Rondônia com apoio de instituições nacionais e internacionais. O evento reuniu mais de 30 profissionais da saúde, gestores e pesquisadores de diferentes estados da Amazônia Legal, além de especialistas dos Estados Unidos, Espanha e Colômbia, em uma experiência inédita de integração científica no enfrentamento à malária.

Capacitação internacional reuniu especialistas em Porto Velho (RO) para aprimorar estratégias de combate à malária

Coordenado pelo Dr. Jansen Medeiros e pela Dra. Maisa Araújo, o Projeto Pró Amazônia Malária iniciou em Porto Velho (RO) a partir da Chamada PAP/UNIVERSAL ÁREAS PRIORITÁRIAS 005/2023 da Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero). Com aprovação em outra chamada do CNPq/MCTI/FNDCT Nº 19/2024, denominada Pro Amazônia, o projeto se expandiu reunindo novas instituições, como a Universidade Federal do Acre (Ufac) – Campus Cruzeiro do Sul e Tefé (AM), por meio da Fiocruz Amazônia. O objetivo é investigar como as intervenções de controle da malária influenciam a transmissão em áreas endêmicas da Amazônia, buscando entender a eficácia das ações e propor estratégias mais efetivas.

O curso de capacitação em Entomologia integra a segunda fase do projeto, que prepara a equipe para o trabalho de campo e monitoramento vetorial nas áreas de transmissão. Durante os cinco dias de capacitação, foram realizadas atividades práticas em campo e análises aplicadas à entomologia médica, com foco em malária. O curso também introduziu o uso da ferramenta internacional ESPT (Entomological Surveillance Planning Tool), desenvolvida pela Universidade da Califórnia em San Francisco (UCSF), que auxilia no planejamento estratégico de vigilância vetorial com base em evidências.

A participação de pesquisadores da Malaria Elimination Initiative (MEI) da University of California San Francisco (UCSF) faz parte de uma colaboração internacional estabelecida desde a concepção do projeto. A MEI atua desde 2007 em cerca de 30 países onde a malária é endêmica, com o objetivo de acelerar a eliminação global da doença através da investigação operacional, do desenvolvimento de ferramentas e fortalecimento de políticas e financiamento.

Esta formação realmente muda o paradigma: faz a gente pensar de maneira diferente. Ela nos ajuda a buscar soluções, em vez de simplesmente implementar um programa de controle”,

afirmou Neil Lobo, professor da University of Notre Dame/USA e pesquisador da Malaria Elimination Initiative (MEI)/University of California San Francisco (UCSF).

De acordo com Rodrigo Medeiros, professor e pesquisador da UFAC de Cruzeiro do Sul,

a capacitação tem nos ajudado a pensar em como podemos melhorar a aplicação e a adequação dos protocolos dentro da nossa realidade, especialmente nas comunidades indígenas. O Pro Amazônia Malaria Project nos permite avaliar diferentes cenários de transmissão da malária e verificar se as ações estão adequadas ou se precisam de ajustes”.

“Durante esta atividade, buscamos adaptar o que fazemos em outros países, como Moçambique, e avaliar se isso pode ser útil no contexto da Amazônia. Foi muito gratificante ver o interesse e o envolvimento da equipe aqui”, destacou Mercy Opiyo, pesquisadora da MEI/UCSF.

Gilberto Moresco que é consultor técnico da Coordenação de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, acredita no potencial dessa experiência, “para pensarmos de forma diferente em relação às práticas que vínhamos desenvolvendo, trazendo novas ideias, novas tecnologias e novas formas de compreender a entomologia e o controle vetorial”.

A acadêmica de doutorado da Fiocruz Amazônia, Paola Meza, defende a importância da capacitação para que os participantes possam compreender as dinâmicas de transmissão da malária em áreas endêmicas e levar intervenções mais eficazes às populações em risco.

Além disso, me proporcionou a oportunidade de fazer parcerias científicas na Amazônia e levar esse conhecimento também para a Colômbia”

destacou.

Representando a Coordenação Municipal do Programa da Malária da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa/Porto Velho), Rosilene Ruffato, afirmou:

A experiência com o curso trouxe um fortalecimento daquilo que já visualizamos no nosso serviço. Ele reforça conhecimentos e evidências diárias que, implementados nos guias de vigilância, irão aprimorar o diagnóstico, o tratamento e a redução da malária. Considero o projeto de grande relevância, com repercussão mundial, pois traz realidades de diferentes países que dialogam com a nossa Amazônia.”

Os desafios e as dificuldades do trabalho de campo foram vivenciados, na prática, pelos participantes, como foi observado por René Jean  Cândido de Moura Fé, da Vigilância em Saúde no município de Candeias do Jamari (RO).

Cheguei ansioso, pois tinha pouca experiência prática em entomologia, mas a capacitação trouxe o tema de forma acessível. Aprendemos a formular boas perguntas diante das nossas dificuldades de campo, para direcionar melhor as ações. Para mim, foi uma experiência excelente.”

O Pró Amazônia Malária Project tem sido de grande importância, pois amplia o conhecimento de pesquisadores e técnicos. Com essa visão, Ricardo Álvares de Melo, gerente do Laboratório de Entomologia (Semusa/Porto Velho) destacou “o contato com professores estrangeiros nos apresentou metodologias de outros países, que podemos adaptar à nossa realidade, fortalecendo a pesquisa e a vigilância em Porto Velho.”

O curso foi de grande importância, pois uniu conhecimentos que já possuíamos com novas técnicas. Foi maravilhoso aprender metodologias diferentes que irão somar para avançarmos em nosso trabalho de pesquisa e diagnóstico para a saúde pública.”

disse Sandra Maria Alves do Nascimento Ferreira, do Laboratório de Entomologia da Semusa/Porto Velho.

Capacitação é fundamental para consolidar integração entre ciência, gestão pública e comunidades da Amazônia

Maísa Araújo, coordenadora do projeto pela Fapero e subcoordenadora do Pro Amazônia Malária Project pelo CNPq, ressaltou que “a iniciativa foi fundamental para consolidar a integração entre ciência, gestão pública e comunidades da Amazônia. Nosso objetivo é formar profissionais capazes de atuar como multiplicadores, aplicando o conhecimento adquirido em seus territórios e fortalecendo a vigilância contra a malária. A experiência mostrou que Rondônia pode ser protagonista em iniciativas de impacto global, alinhadas ao compromisso do Brasil com a eliminação da doença até 2035.”

Texto: Raissa Dourado (com revisão de José Gadelha)

Fotos: Raissa Dourado/Projeto Pró Amazônia Malária

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