Trabalhos foram conduzidos pelo Laboratório de Referência Nacional em Hidatidose (LRNH) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em colaboração com a Fiocruz Rondônia e profissionais da atenção à Saúde Indígena local.
Aldeias ficam localizadas a mais de 800 km de Porto Velho-RO
Pesquisadores do Laboratório de Referência Nacional em Hidatidose (LRNH) do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em colaboração com a Fiocruz Rondônia, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI/Vilhena) realizaram uma ação de vigilância da Equinococose Neotropical em comunidades indígenas nos municípios de Vilhena e Chupinguaia, localizados na região do cone Sul de Rondônia a mais de 800 km de Porto Velho.
A ação se deu em resposta a uma demanda apresentada pela comunidade indígena no município de Chupinguaia, a partir da ocorrência de casos confirmados e suspeitos da Equinococose Neotropical entre os indígenas. Dessa forma, a solicitação de um trabalho de vigilância na região, que passou pela Funai em Brasília, também resultou na capacitação de profissionais de saúde nos municípios de Vilhena e Chupinguaia. A iniciativa foi expandida para outras comunidades indígenas nas proximidades que apresentavam comportamento favorável para um cenário propício à ocorrência da Equinococose Neotropical, a exemplo da atividade da caça de paca para o consumo humano.
Foram realizadas coletas de amostras de sangue da população indígena e de cães; fezes de cães também foram coletadas nos peridomicílios das aldeias. Como uma ação adicional, foi realizada a coleta de carrapatos de cães, para o estudo e vigilância de vetores das riquetsioses pelo Laboratório de Entomologia da Fiocruz Rondônia, em Porto Velho. Ações educativas foram realizadas com a população indígena, bem como a conscientização sobre o correto manejo ou descarte das vísceras de animais oriundos da caça.
Equinococose Neotropical
A Equinococose Neotropical é uma doença causada pelo helminto cestoide (verme achatado) Echinococcus vogeli, que quando em sua forma larval, parasita o ser humano, principalmente no fígado. O ciclo de transmissão silvestre compreende de um hospedeiro intermediário – a paca (Cuniculus paca) – e um hospedeiro definitivo – canídeo silvestre – a exemplo do cachorro-vinagre (Speothos venaticus). A transmissão da doença em humanos acontece geralmente em circunstâncias de consumo da carne de paca e quando suas vísceras são fornecidas cruas a cães domésticos (Canis lupus familiaris), que acabam exercendo papel importante na substituição do hospedeiro definitivo silvestre ao eliminarem as formas infectantes (ovos e larvas) no ambiente doméstico, por meio das fezes. A transmissão se dá normalmente através do consumo de alimentos ou água contaminados.
A evolução do parasita no fígado humano geralmente ocorre de forma lenta e os primeiros sintomas costumam surgir em alguns anos e até décadas depois da infecção. Os principais sinais clínicos da doença são associados à doença hepática, como distensão abdominal, dor e insuficiência hepática. Frequentemente, o agravo é confundido com câncer hepático, e o paciente descobre a doença em consulta ou até mesmo durante tratamento e cirurgia oncológica.
A pesquisadora em Saúde Pública e coordenadora do LRNH (IOC/Fiocruz), Rosângela Rodrigues e Silva, que esteve à frente das atividades em Rondônia enfatizou que
esse trabalho de vigilância é importante para a descoberta de evidências sorológicas em pessoas no início da contaminação, antes mesmo de os sinais clínicos surgirem, o que permite o diagnóstico precoce e o tratamento médico adequado.
A pesquisadora também alertou sobre a importância das medidas profiláticas: “solicitamos a população que antes de oferecer as vísceras das pacas cruas aos cães, que possam aferventar as mesmas por pelo menos 15 minutos, o que elimina o risco de infecção dos cães, e por conseguinte, elimina o risco de infecção humana também.”
Trabalhos de orientação e conscientização foram realizados com a população indígena
O compartilhamento de conhecimentos científicos sobre a doença entre a população indígena e os profissionais de saúde locais fortalece as políticas de vigilância e de conscientização no território. As orientações sobre profilaxia, noções de higiene entre outras recomendações são importantes medidas de prevenção.
As atividades contaram ainda com a participação dos tecnologistas em Saúde Pública André Aguirre (Fiocruz Rondônia), Fernanda Cunha (IOC/Fiocruz), a bióloga e gestora da Qualidade Simone Mendes (IOC/Fiocruz), os discentes Tuan Correia e Thiago Pereira (IOC/Fiocruz), Gabriel Moreira (Fiocruz Rondônia/UNIR), o colaborador Carlos Abreu (Infraestrutura/Fiocruz Rondônia), além de profissionais da SESAI e CASAI Vilhena.
Texto: José Gadelha
Fotos: André Aguirre